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Opinaria é um blog simples, directo e espero que útil para muitos. É um espaço de livre opinião. Onde todos podem deixar o ar da sua graça, a sua marca, escrevendo um pensamento, uma teoria ou uma simples opinião. Será sem dúvida um espaço de debate... um espaço para todos... verdadeiramente democrático. Contudo, para que assim seja, precisa de participação e muitos temas.

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- "Dica Gourmet - Vinhos e Companhia" por Francisco de Sousa Coutinho - Dias 15 e 30.
- "Sociedade" por Filipe Rocha Vieira - Dias 5 e 20
- "Educação" por Fernando Arrobas da Silva ao 8º dia do mês

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Sunday, December 31, 2006

Cultura vs Cultura

Ler muito e com critério. Ir ao cinema, ao teatro e a espectáculos culturais. Participar activamente em qualquer tertúlia. Indicar, com clareza, quais as preferências musicais. Visitar museus. Curiosidade na receita dos pastéis de Belém. Saber quem foi o Campeão do Mundo de Futebol em 1966, saber o que foi o 25 Abril de 1974: tudo é cultura!

Quero acreditar que o evoluir cultural do mundo moderno caminha neste sentido. A vida activa de qualquer ser quotidiano pode conter todas estas, e mais, componentes.
É certamente impossível, ou muito difícil, mantermo-nos a par de tudo. Mas não devemos ser restritos à nossa especialidade profissional.

Eu não sou, e sou, adepto dos tecnocratas, pois técnico, em sentido lato, “pertence exclusivamente a uma arte ou a uma ciência”. No meu entender, julgo que devemos ser autênticos especialistas e de elevada cultura na nossa área, mas devemos também procurar ser pessoas esclarecidas e interessadas nas mais diversas.

Poucas profissões haverão no mundo tão exigentes como ser médico. O poder de decidir sobre o sofrimento, e muitas vezes a vida e a morte das pessoas, é um poder que mais nenhuma classe tem. E a responsabilidade da perfeita convicção aquando da proposta de uma terapêutica médica também o é.
A formação é contínua e exigente. Semanalmente, quase diariamente, e passo a passo, sempre, com a mesma, necessária, seriedade e rigor. A quantidade de literatura médica é infindável e os congressos, mesmo apesar de interesses comerciais e marcações turísticas, são muitos.

Assim, pergunto-me se será possível, após a leitura sobre a descoberta, de investigadores da Faculdade de Medicina de São Paulo a partir da montagem de uma árvore genealógica, de uma nova doença mortal, designada provisoriamente por neuropatia hereditária motora e autonómica progressiva que se caracteriza por fraqueza dos membros superiores, inchaço da barriga, constipação intestinal e aumento do nível de colesterol, ter disposição para iniciar o novo livro de José Saramago?

Não será certamente o mais apetecível. É um facto que há 30, 40 anos a cultura médica e outras formas de cultura eram mais compatibilizáveis. A literatura médica era incomparavelmente menor.
Hoje, a hiper-especialização e a velocidade vertiginosa (e a competição!) dos progressos da Medicina impõem outros ritmos de leitura e dedicação.

A culpa é da profissão? É da vontade? Quanto a mim, o maior entrave são os horários de trabalho descabidos e, a consequente, falta de tempo para os mais diversos lazeres não relacionados com a prática profissional.
Sobretudo devidos a uma enorme falta de médicos no país: o sector da saúde em Portugal denuncia que para cada 100 mil pessoas, existem 324 médicos, valor extremamente baixo e que obriga à contínua recruta estrangeira.
O próprio bastonário da Ordem dos Médicos admite: “Os próximos 9 ou 10 anos vão ser complicados, pois vamos ter de exigir aos actuais médicos portugueses que trabalhem mais (!) e temos que, provavelmente, inventar formas de prestação profissional que sejam mais estimulantes, nomeadamente através do estabelecimento de convenções”.
A medicina é outra quando praticada por médicos cultos e em Portugal existe essa grande tradição, que é de ansiar que permaneça. Temos, entre muitos, o exemplo da comprovada genialidade de Adolfo Correia da Rocha, o nosso saudoso Miguel Torga, médico-poeta.

Todavia, com este novo “pedido” e obrigação para com a pátria em crise, quantas vezes, a família será subalternizada. Será lógico, então, que a cultura o seja ainda mais.
Penso que é tempo de o país compreender a necessidade de transversalidade de interesses e conhecimentos inerentes a uma personalidade humana, para que este evolua.

Mas afinal, – perguntavam-me há dias, a propósito de eu defender afincadamente este tema na mesa redonda – o que é que quer um doente quando no seu sofrimento procura um médico para o ajudar? A sua competência profissional ou um cidadão actualizado sobre literatura portuguesa, estrangeira ou outro tema qualquer não relacionado com a sua profissão? “Os pacientes apenas querem que lidem com eles como lidariam com um amigo”, foi a minha resposta.

Fernando Arrobas da Silva

Monday, November 20, 2006

O mundo automóvel - "Do karting à F1"

Peço desculpa pela minha falha nos 2 últimos artigos. Devido a compromissos profissionais não consegui escrever para o opinaria, que tem realmente tido um sucesso impressionante.
Hoje irei falar do caminho a percorrer desde o karting até à Formula 1, ou das várias soluções noutras categorias tão competitivas como a F1 e que valem realmente a pena.

O karting como se sabe, é uma “escola” ou uma “fábrica de Campeões”, onde apenas dão o salto para os monolugares os que mais se destacaram e melhores resultados atingiram, portanto os melhores.
Requisito numero 1 – o talento natural que nasce com cada um, mas nunca esquecer aspectos técnicos, postura em pista, relação com os patrocinadores ou com a imprensa. São algumas exigências que distinguem os melhores de todos os outros.

A partir do karting, existe todo um percurso que hoje em dia requer uma dedicação a 100%, uma forma de vida em que se tem realmente querer, abdicar de tudo pensar apenas nas corridas.
O passo lógico nos dias de hoje será qualquer coisa do género:- Formula BMW
- Fórmula Renault ou Formula 3 (Euroseries)
- GP2 ou World Séries by Renault
- Fórmula 1

Não quero com isto dizer que todos os outros campeonatos nas fórmulas de promoção não sejam competitivos ou bem organizados. Quero simplesmente dizer que para se chegar ao topo tem de se seguir os caminhos onde estão os melhores. Somente competindo onde estão as referências de cada uma das disciplinas, das diversas gerações, pode ambicionar-se ser um dos melhores e, como os melhores vão para os mais fortes campeonatos, é ali que se deve estar. Não serve andar em campeonatos de segunda, apenas para levar a taça e preencher o curriculum com “Campeão”.Depois, se conseguirem chegar lá a cima (Formula 1), tanto melhor, mas caso isso não acontecer, ficará por certo aumentada a probabilidade de poderem ingressar noutros campeonatos (normalmente GT´s ou Turismos) e aí prosseguirem as suas carreiras de uma forma profissionalizada, fazendo do automobilismo a nossa vida.

Um abraço,
Duarte

Wednesday, November 08, 2006

EDUCAÇÃO - LABIRINTO ACADÉMICO

Ninguém irá perceber como, com o deserto cheio de areia fácil para ser comentada nestes dias (Caro Teixeira, permita-me ter opinião) e as constantes novidades do Apito Dourado, eu fugi a essa trivialidade e me propus antes a falar de Educação.
Principalmente porque se vivem tempos complicados no Ensino Superior: a declaração de Bolonha, a politica a entrar nas Academias, a necessidade de um Maio de 68 para nos tornarmos mais contestatários? Já não vivemos na época em que nada nem ninguém era indiferente.
Terça-feira, 1 de Fevereiro 2004. Dia da oral de Neuro-Anatomia. O despertador tocou às 10.30 da manhã, mas apenas fui acordado pela dedicada Mãe as 11. Durante o banho tentei, com insistência, afastar a ideia do exame das duas da tarde. Tentando disfarçar um nervoso miudinho, antes de sair de casa, bebi ainda um delicioso batido de banana e comi uma sandes de fiambre.
Alguém me aturou nos 30 minutos infernais antes da minha chamada. E após outros 30 minutos, terminou. Mais azar teria sido entrar na sala, tropeçar e partir a cabeça. Saíram-me todas as perguntas que eu não queria. Tinha passado, mas apenas com 12.
Triste, embora conformado com o pouco estudo e com as palavras do Professor a solicitar uma melhoria em Setembro, voltei para o carro. Tinha estacionado à frente da Faculdade de Psicologia. Aí, deparei-me com um grupo de 5 raparigas giríssimas! Pensei: Devia ter vindo para Psicologia. Só me apercebi do peso do meu pensamento quando me sentei no carro e tive um outro: Não, devia era ter ido para direito e seguir a carreira do meu Pai. E depois ainda E a Marinha como o meu Avô. Mas o que eu sempre quis foi Medicina.Estava num labirinto académico: a uma panóplia de factores correspondia uma panóplia de direcções.
Não foi, logo ali, minha intenção recorrer ao “cliché” de criticar políticos, medidas e pressões de lobbies pois acredito que a sociedade urbana portuguesa, toda em conjunto, é que tem vindo a criar uma geração protegida que dificilmente assume compromissos e sem grandes opções de escolhas de futuro e, talvez por isso mesmo, se sinta permanentemente insatisfeita.
Optei antes pela reflexão. Apenas a reflexão me conduziria a uma grande urgência na acção, qualquer que fosse o meu lugar na sociedade.
A reflexão aparece-nos ligada a atitudes mentais que nos são indispensáveis. E é, além disso, uma grande libertação da consciência.
Num instante apercebi-me de que não estava sozinho. Quantos e quantos estudantes do Ensino Superior, com os quais todos os dias me misturo no corrupio insensato do quotidiano, estariam na mesma situação que eu. Confusos, perdidos.
A adicionar, existem também muitos medos, dúvidas, fraquezas e preconceitos, dependentes da personalidade de cada um.
Como é fácil de acreditar, são muitas mais as maneiras de contribuir activamente para o desassossego e o sofrimento mental, do que para o bem-estar e para a harmonia.
E, desse modo, perigosamente, cria-se um mundo onde o futuro pode ser uma interrogação.
Nesse ano, de acordo com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, 88% dos estudantes candidatos entraram no Ensino Superior. No entanto, apenas 6 em cada 10 conseguiram um lugar na sua primeira opção.
Pela primeira vez desde 1996 (!), a ?barreira? dos 18 valores para entrar em Medicina em Portugal foi quebrada. Ainda assim, apenas em 4 das Universidades.
Embora esta situação represente escassos esforços de melhoria, ainda não é suficiente. Está criado um sistema elitista que, por ironia, chumba estudantes com 17 e aprova outros com 8,42 (nota de candidatura do último aluno colocado no Ensino Superior Público).
Este descalabro dá lugar à desilusão dos alunos e às críticas dos pais e professores.
Sem medo das palavras, na Faculdade de Medicina Dentária, há pouco tempo atrás, estatísticas revelaram que foram 0 os alunos que tinham escolhido o curso de Medicina Dentária como primeira opção. As minhas perguntas são duas: Haverá pior para um estudante, após 18 anos de evolução de conhecimento, do que fazer uma licenciatura contrariado? E aqueles que colocaram Medicina Dentária como 1ª opção, onde estão?
Calculo que contrariados noutro local qualquer!
A situação sobrante desta verosimilhança é a criação de Faculdades transitórias e o desagrado e frustração dos seus discentes que não conseguem encontrar motivação, perdem capacidade de trabalho e desistem. É lógico e compreensível que a entrega não possa ser a mesma quando o seu desejo mais veemente não está a ser realizado.
A arte da felicidade tem muitas componentes e a realização pessoal é uma delas. Sou o primeiro a defender a luta pelo sonho e pela ambição.
Contudo, por vezes, a desilusão, seguida pela conformação, apenas precede algo que pode ser bom.
Nas faculdades há de tudo: os que comem na cantina, os contestatários, os trabalhadores-estudantes, os associativos, os do conselho pedagógico, os desportistas, os bon-vivants e alguns como eu, que julgo que tenho sido de tudo um pouco. Por isso, recorro à expressão ?renascer da esperança?, na tentativa de acordar aqueles que já vão para além da decepção académica e já esqueceram o que é gerar empatia, e o tremendo valor e benefícios da compaixão e da amizade.
Embora momentaneamente ainda estivesse com dúvidas, quando terminei a minha reflexão já sabia o que não queria: Seja ele qual seja, e qualquer a razão que eu lá esteja, não quero é ser indiferente ao meu curso.

Fernando Arrobas da Silva

Monday, November 06, 2006

Dica Goumet - Vinhos e Companhia

Antes de mais, peço desculpa pelo atraso com que envio esta opinião.
Gostava de falar, desta vez, do restaurante Coelho da Rocha, em Campo de Ourique (Lisboa), na rua com o mesmo nome.
Casa com mais de 1 década e propriedade de um antigo empregado do Gambrinus (restaurante também lisboeta, muito famoso e que faz jus à sua fama), conta com uma ementa típicamente portuguesa e da qual vou destacar 2 escolhas.
O restaurante em si não é muito grande, e está dividido em 2 àreas:
1ª à entrada, na zona de bar (agradável enquanto se espera uma mesa vaga, daí recomendar que se possível, marquem mesa) e para mim, a zona onde mais gosto de ficar, pois é mais fresca!
2ª mais para o fundo, escura, fazendo lembrar uma sala antiga, mas não menos agradável que a entrada. Apenas mais quente. O mesmo acontece na ligação entre estas 2.
Cheguei por volta das 13:30 para almoçar, e tive de esperar por mesa ao balcão do bar onde me deliciei com um pratinho de presunto panta negra (sempre bom) e uma lambreta fresquinha.
Aproveitei e fui pedindo uma dose de gambas al ajillo (8€) que chegaram à mesa 5 minutos depois de me ter sentado e após 3 ou 4 torradas de pão saloio muito fininhas e que serviram de óptimo acompanhamento às gambas e ao azeite. Ambas estavam sem dúvida, perfeitas! Fritas por fora, mais moles por dentro e deixavam-se comer maravilhosamente.
Como prato principal, pedimos (é verdade, antes que se assustem, éramos 3!)
1 – Costoletas de borrego fritas acompanhadas de batata frita e arroz branco (10€) que se apresentaram no ponto, e da qual destaco fundamentalmente a qualidade da carne.
2 – Rins “ao Madeira” também com arroz branco, muito solto e saboroso. No entanto, faltava sal e não se notava de maneira alguma o sabor do vinho da Madeira.
Acompanhámos este repasto com Marquês de Borba tinto 2004 (14€) o qual combinou na perfeição com os rins (talvez devido à ausência de vinho da Madeira pois se se notasse, suponho que ficasse confuso) e com as costoletas, mas mostrando-se pouco “amigo” das gambas (sem dúvida que a cerveja aqui teve o papel principal). É um vinho ainda novo mas já está bom para consumir.

Agarrando na idéia que me foi dada da última vez de classificar cada restaurante, o Coelho da Rocha fica com 16 pontos por esta refeição (Escala de 0 a 20), pela falha nos rins e pelo calor constante na sala, mesmo com a existência de um ar condicionado. Qualidade de serviço impecável, e menú extenso, bem como uma carta de vinhos recheada.

Gostava ainda de vos indicar este livro: Guia Tascas de Portugal de Mafalda César Machado numa edição da Inapa em colaboração com a Brisa. É uma iniciativa fantástica e pode servir de ferramenta a todos os comensais. Eu vou utilizá-lo, e ainda vão ver aqui opiniões minhas sobre algumas das tascas apresentadas. Era engraçado começarem também vocês a deixar as vossas opiniões para podermos todos partilhar.
Até à próxima!

Fracisco de Sousa Coutinho

Monday, October 16, 2006

Mundo Automóvel - "Interesse pela Fórmula 1"

Doze anos passaram sobre a trágica morte de Ayrton Senna, um dos mais notáveis pilotos de sempre. Mais de uma década ao longo da qual a Formula 1 tem vindo a perder interesse, de forma recorrente, em grande parte devido à quase total ausência de pilotos carismáticos. Um observador menos avisado que hoje em dia olhe para a grelha de partida de um Grande Prémio, apenas encontrará dois ou três nomes: Schummacher, Alonso e pouco mais. Isto por agora, porque para o ano nem Schummacher teremos, portanto a tendência é para monopolizar ainda mais as classificações. Faltam pilotos como Prost, Mansell, Pirquet, Villeneuve, por exemplo. É que, na década de 90, Senna disputava em pista (e não só) com pilotos de grande nível e, quando terminava uma corrida em primeiro conhecia-se o nível e o nome dos vencidos. Hoje em dia o Alonso e o Schummacher ganham corridas atrás de corridas e, sem desprimor, quase temos de fazer um esforço de memória para nos lembrarmos que o terceiro foi o Button, o quarto foi Fisichella e o quinto foi Trulli.

Ao pretenderem (Max Mosley /Bernie Ecclestone) que a Formula 1 seja, acima de tudo um negócio, um espectáculo televisivo, com horas mais certas do que as que dá o Big Bem, entrevistas marcadas com semanas de antecedência, um rigoroso controlo de acesso à comunicação social, em pistas assépticas, com pilotos e carros o mais longe possível das multidões e com investimentos descomunais (apresentados abaixo), os “homens que mandam” neste desporto estão a contribuir, decididamente, para a sua “morte” a médio prazo.


Lista dos orçamentos das equipas por ano (2006)
*fonte: Revista Business F1

Maclaren: US$ 402 m
Toyota: US$ 383 m
Honda Racing: US$ 371 m
BMW: US$ 368 m
Ferrari: US$ 319 m
Renault: US$ 292 m
Red Bull Racing: US$ 195 m
Williams: US$ 130 m
Super Aguri: US$ 92 m
Spyker Racing: US$ 74 m
Toro Rosso: US$ 64 m

Duarte Felix da Costa

Sunday, October 15, 2006

A Dica Gourmet - "Vinhos e Companhia"

Sexta feira, 10 da noite, jantar combinado entre 5 amigos. Duvida do costume: “Onde?”
Optámos por Alcântara, freguesia lisboeta onde reinam as marisqueiras.
Digo-vos sinceramente que me agrada bastante a idéia de ir de vez em quando a Alcântara, à marisqueira “O Palácio” por volta das 7 da tarde comer umas gambas “al ajillo” seguido de um prego do lombo mal passado carregado de alho! Nada melhor que acompanhar com uma imperial bem fresquinha numa tarde de primavera.
No entanto, após algumas indecisões, optámos (ou aliás, optaram, pois eu estava atrasado) por um espaço que eu nunca tinha ouvido falar: Restaurante “A Churrasqueira de Alcântara”, que fica na 2ª rua à direita de quem sobe para Santos.
Espaço moderno, onde nada nos faz lembrar que estamos numa churrasqueira, a não ser o barulho (típico de um restaurante apinhado de gente numa sexta feira à noite) e as mesas corridas com que me deparei devido a 3 grupos de aniversariantes.
Infelizmente, e devido ao meu atraso, perdi as entradas que nos são colocadas de imediato na mesa: Queijo seco, prato de presunto e os típicos conjuntos de pão, manteigas e azeitonas.
Ambiente agradável, e desde já os meus parabéns pela decoração e recuperação deste espaço, com um pé direito altíssimo de paredes brancas, inrrompidas por pedra descascada, fazendo-nos lembrar que aquele local poderá ter sido um armazém antigo.
Quanto ao menú, totalmente vocacionado para a carne grelhada, e onde constam desde bifes, a carne de porco, à típica picanha (na qual recaiu a minha escolha), deixa-nos com água na boca. Optei por uma espetada de picanha acompanhada apenas por batata frita (9.40€). Estando habituado a comer picanha fatiada, surpreendeu-me o facto de a picanha vir em cubos e não em fatias enroladas, aos quais dou nota 20! Tempero no ponto, não se notando de todo se foi grelhado em grelha a carvão ou a gás (obrigatório hoje em dia) e, tal como eu gosto, em sangue.
Quanto às bebidas, e sendo a minha predilecta o “licor de Baco” (Deus do vinho, que representava o seu poder embriagador e as suas influências benéficas e sociais), não posso deixar de comentar as caipirinhas e caipiroscas que foram bebidas à mesa como apertivos por uns (sendo o meu caso) e como acompanhamento durante o jantar, e muito bem, por outros. O preço de 3.50€ era sem dúvida apelativo. No entanto, optei por um tinto do Douro, “Evel” de 2001 (6.50€) que acabou por calhar extraordinariamente bem com o prato. Prova de que ainda existem vinhos bons e baratos, sendo pouco inflacionados nos preços em restaurantes. A carta de vinhos no entanto, e apesar de apresentar vinhos de todas as regiões, a sua diversidade era pouca, sendo ainda menos os vinhos de preço intermédio e muitos os de preço alto, que estavam totalmente infacionados.
Após este repasto, optei por não pedir sobremesa e sendo assim, fecho a crónica a este restaurante com nota 15.

Nota: De aproveitar até dia 18 do corrente mês (quarta feira) a Feira dos Vinhos do Feira Nova. No entanto, e apesar da parceria do grupo Jerónimo Martins com a revista Blue Wine ser positiva, é pena haver apenas 4 vinhos acima dos 10€... Não que eu goste de gastar mais, mas sabemos que qualidade se paga e nem todos os vinhos abaixo deste valor têm qualidade.

Até à próxima!

Francisco de Sousa Coutinho

Sunday, October 08, 2006

EDUCAÇÃO - "Voltei a ler os Maias"

É para mim um privilégio ser um dos convidados e pioneiro a escrever para o “Opinaria”, novo espaço de incentivo aos jovens, que lhes pode mostrar a liberdade e aproveitá-la.
Sou estudante, Quartanista do Ensino Superior. E dos preocupados. Porém, hoje, como mote da minha futura e assídua participação, deixarei aqui uma história de quando era apenas um recém-chegado do ensino secundário e se mantém actual.
Nesses tempos, nunca me conformei com a obrigação e a imposição, na disciplina de Português, de ler as obras literárias. A verdade é que a obrigação e imposição suscitam nos jovens um sentimento de rebelião traduzido numa vontade de fazer precisamente o contrário, conduzindo os alunos a refundirem-se em resumos, fotocópias e apontamentos. A repercussão do disfarce: Não desfrutam da obra e descuram em cultura.
O tempo mudou. Agora, longe das salas de aula do meu antigo Liceu, encontrei outro sabor nos livros: anseio que tenha mudado de página e que tenha usufruído de tudo o que ela pudesse oferecer. Leio com vontade; não com o intuito de dividir uma frase em orações, saber o tempo do verbo, identificar todas as figuras de estilo e “brilhar” em exame.
É mesmo verdade! Voltei a ler Os Maias! Interessei-me e, como se não bastasse, após terminar, documentei-me, investiguei e relembrei toda essa fulgurante época literária que foi o Realismo Em vez de apreender, aprendi e agora partilho.
O realismo foi uma corrente de expressão literária que surgiu em oposição ao movimento literário anterior – o Romantismo. Tratava-se de uma nova atitude perante a literatura e as artes plásticas e que era inspirada na vida real, no quotidiano, na crítica social ao ambiente vivido no seio da burguesia, à denúncia quanto à miséria vivida nos bairros populares e degradados.
Em contraponto com o Romantismo, que se definia como a apoteose do sentimento, exacerbando sentimentalismos utópicos, realçando excessivamente paixões amorosas chegando até a ser, quantas vezes, enfático e “piegas”, o Realismo, como dizia Eça de Queiroz, “é a anatomia do carácter”, era o apontar a dedo a realidade observada. O realismo procurava a realidade autêntica e não a realidade que, entretanto, estava deformada pelo mundo romântico.
Este movimento literário era também um movimento ambicioso. Não se limitando a descrever as realidades concretas do Homem e da sua vida quotidiana, preconizava uma ideia de mudança e de modificação da realidade social. Só que para que tal acontecesse, este movimento encerrava a convicção que para modificar a realidade era necessário descrevê-la com objectividade. Este método decorria do “positivismo” de Augusto Conte, que propunha uma rigorosa observação e experimentação como único caminho para chegar ao conhecimento da realidade.
Um dos grandes expoentes do Realismo foi o saudoso Eça de Queiroz. Eça chamou a si a glória e “ergueu um dos monumentos mais altos de Arte e cultura deste país”: Os Maias.
O Os Maias constitui sobretudo uma análise social do quotidiano lisboeta do século XIX e encerra uma forte crítica da realidade vivida então. Exemplo bem significativo desta crítica feroz é o facto de ser atribuída à personagem João da Ega (que muitos analistas consideram tratar-se do próprio Eça) a escrita de um ensaio literário As Memórias de um Átomo. Este (João da Ega), ao longo de Os Maias vem, permanentemente, sendo inquirido sobre para quando a conclusão desse livro ou ensaio.
Até que mais tarde responde: “Estou à espera que o País aprenda a ler”. Esta frase célebre encerra em si mesma uma tremenda crítica à instrução pública, à educação e ao problema do analfabetismo. Curioso é – e isso é que vem ao caso – o quanto essa crítica é actual… O tema proposto é tão aliciante quanto vasto.

Continuarei a ler e a criticar… com vontade e todos os dias 8 de cada mês!

Fernando Arrobas da Silva